20 setembro 2008

E eu? Não tenho direito a ser igual?


Surpreendentemente se falou e (pouco) no casamento homossexual durante estes últimos dias, desde que se agendou para o dia 10 de Outubro a votação parlamentar sobre o assunto. E, em efeito, não consigo perceber como ele foi tão pouco debatido (provavelmente uma questão de minutos). Também não consigo entender a fraca cobertura que todos os jornais online ou canais de televisão lhe deram. Sendo que, estes últimos, empurraram o assunto para o finais do telejornal - onde o share é menor do que aquando da abertura dos respectivos programas de informação. Pareceu-me que até os comentadores engoliam em seco antes de pronunciarem a palavra 'homosseuxal' ou 'gay'. Teriam eles medo de que, por acaso, ao pronunciar esssas mesmas palavras com franqueza sejam acusados de homossexualidade? Honestamente, foi o que me pareceu. De qualquer das maneiras é bom que o tema comece a ser abordado de algum jeito e que algumas das nossas figuras públicas comecem a fazer disto um tema corrente na sociedade. E agora parece que surgem umas aves raras a pedirem um referendo sobre o assunto.

O ponto está é que os gays, ao contrário das mulheres, não são uma maioria (digamos, um 50:50) da população. Referendar-se-ia o destino de uma minoria aos olhos do estado? Parece-me discriminatório. Daquelas coisas surreais. O mesmo que pedir a toda a Espanha para referendar a independência do País Basco... Odd!


Eu, pessoalmente, acredito na estratégia do PS - não podem aprovar um projecto tão polémico como este numa sociedade conservadora, sem realizarem a devida preparação social para o tema. Portanto, tratando-se de uma resolução de uma inconstitucionalidade séria, é também um tabú profundíssimo no país (e, por isso, requer um salto progressista - perigoso para quem quer ganhar eleições). Mas o que mais me revolta são certas secções 'alegres' da esquerda que se quer conservadora para agradar a velhos (!bem conservadores!) e que, bem assim, vai para a Atalaia da Amora, abanar o capacete ou as marijuanas, mas 'Deus' me livre e perdoe se afirmar que protegem o casamento entre duas criaturas do mesmo género.


[O cúmulo é depois os mesmos virem dizer que o PS foi quem tirou mais ao 25 de Abril, quando a dita igualdade ainda não chegou a todos... afinal a revolução foi só para alguns portugueses ou foi para todos?]
Até à próxima legislatura, não me parece muito tempo, e digo-vo-lo muito sinceramente é preciso criar condições na cabeça das pessoas para temas sensíveis como este. Se o tema da IVG demorou perto de uma década até ser digerido pelas pessoas, não podemos esperar da noite para o dia a criação de condições para aceitação total do casamento homossexual. Especialmente quando se vive em Portugal. Há quem, contudo, afirme que poder-se-ia (eventualmente) começar com a legalização e esperar que a sociedade evolua (conforme-se) como aconteceu em Espanha. Acontece que nós não somos espanhóis...

Assim, fico aqui quieto a pensar o que custa tanto aos homens a igualdade? Insultos, agressividades à parte, vejo que uma ténue fronteira passa entre a razão e o estado animal. Saberão as instituições democráticas responder à civilização e à 'sofisticação' dos tempos? Certamente. Quando? Só o tempo o dirá.




PS: Por vezes penso mesmo que este tema além da obviedade da sua resolução é uma pequena parte da resolução da Revolução dos Cravos. E eu quero viver, experienciar, para poder contar aos meus netos, a passagem da noite para o dia...

2 comentários:

LusoBoy disse...

Pois, isto anda complicado. Deviam olhar mas é para a Constituição Portuguesa e ver pelo exemplo dos outros países. Vamos ver se isto anda para a frente. É triste a liberdade pôr-se assim em causa...

Anónimo disse...

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

PARTE I - Direitos e deveres fundamentais

TÍTULO I - Princípios gerais

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Artigo 13.º - (Princípio da igualdade)




1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.

Enfim, pela minha interpretação deste artigo a resposta à tua pergunta (e à de cerca de 10% da população portuguesa) é claramente afirmativa (sim,tens direito!)...infelizmente, há muito boa gente que insiste em criar excepções a um direito que devia ser universal.

Pode ser que agora com o tema em cima da mesa consigamos algumas mudanças...who knows! =)