19 setembro 2008

As horas da noite

É noite e o meu coração acorda sobressaltado por não te encontrar abraçado a mim, nem a meu lado, nem encontrar (ainda que por dúbios caminhos) a presença da razão. Por que não te consigo abandonar, esquecer? Por que razão, maravilha inexplicável de um capricho divino, não me libertas a minha mente do teu penoso silêncio? E, assim, passam os dias sem nada dizeres e passam mais que os dias as horas em que continuo, na minha vagarosa e mordida, esperança, esperando-te. Sossegado, diziam eles. Sossegado como um pássaro livre na madrugada viria o amor, mas parece que o que veio, até então, foi a geada e a leve resignação dos corpos. Não me leves a mal, amor, não te estou a abandonar, nem colhi do ser da noite a resignação que o meu coração tão esperava. Mas heis que tu chegaste (e acreditando nisso) trespassaste de memória os meus sentimentos e toda a alegre e leve constituição do meu ser. Pois tu chegaste mais uma vez no éter dos sonhos e tudo não passou disso e de poesia.

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