09 outubro 2008

O espelho


Quem não me conhece pode tirar preconceitos de mim, do modo como vejo eu as coisas do mundo. E, quem ler, este pequeno texto, este excerto, poderá indagar que o sujeito escreve alguma coisa de jeito, sem, no entanto, conhecer-me. A verdade é esta mesmo, que a própria verdade se perfila nas perspectivas do que eu quero ver ou do que vejo, especialmente se viver num meio onde pouco posso ver. Não me julgam por ser o que sou e a questão ou ponto chave aqui não é a homossexualidade. Com essa vivo eu tranquilo. A questão é não é senão a ideia a personalidade que tenho construído ao longo destes 20 anos. Há quem, certamente, me julgue positivamente e outros há, que me julgam negativamente. Contudo, como todos os restantes membros da minha espécie, eu sou uma mistura de características - algumas mais sensatas que outras e outras menos virtuosas. Não ponho de parte a ideia de me conhecerem superficialmente seja benéfica, mas essa perspectiva é, não menos, enganadora. Também, como é óbvio, não quero que todos me conheçam a fundo, pois isso seria demasiado constransgedor. Mas quando digo que tenho saudades de um gesto, de uma acção, de um sorriso... como podem entender que sou exacerbado e que para o resto da minha vida e momentos serei sempre uma pessoa com comportamentos, digamos (à falta de melhor palavra) carentes? As pessoas que nos conhecem têm medo da superficialidade, pois não acham razoável conhecerem-nos um pouco mais se o que conheceram entretanto não lhes agrada. É como conhecer uma pessoa por uma foto, uma dedicatória ou mesmo por um texto como este. Acháis vós que me conhecem?


Deixem-me responder pelas vossas pessoas, não. Também eu não vos conheço, conheço as situações e posso generalizar os conteúdos das mesmas às pessoas. Tal como vós. No fundo somos iguais e os papéis alternam-se. Não me vale de nada chorar sobre o leite derramado.


Mas o que mais me irrita são aqueles que vivem na tranquilidade da sua superficialidade, controlando cada pormenor da sua imagem. O que diriam os espelhos? O que diria o bom senso? E, melhor, o que diria o meu bom senso? E evitam, tão psicoticamente, os primeiros passos em nome do medo de nos conhecerem a fundo. E eu pergunto: que ganham com isso?

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