11 outubro 2008

Hoje dia em que não há vento


Hoje. Hoje tomei a perfeita noção dos vértices, dos espaços, imensos vazios que se estendiam no palco da minha face e teatro da minha mente. Hoje, estou a um passo de te enterrar como enterrei tantas memórias, de lamentar quem eu fiz sofrer por sofrer por ti. Hoje, tão claro como nunca, estás morto. E eu sobrevivi ao teu arrastar e à tua sofreguidão de mil palavras silenciosas. Hoje sinto que sou, novamente, dono dos meus actos. Quebrou-se o feitiço, quebrou-se o que se havia dito. Eu sou eu, em pleno. Hoje, dia em que não há vento, espalhei as tuas cinzas sobre o imenso e azul corpo do oceano. É dia de sarar as feridas e de dar o lugar certo à carne e à alma. É o dia de me projectar na dignidade do ar e na infinidade das coisas. Onde sei que posso ser mais livre, se livre em mim for eu. Nem tropeço no degredo da tua imagem quando sigo em frente. Pois jamais estarás onde coloco a magia das coisas. Para mim é o começo de um novo mundo, e à pedra que chamei estéril edifiquei nela a minha fortaleza e ao deserto que chamei vazio, traçei a travessia para o outro lado.

1 comentário:

LusoBoy disse...

Acho eu muito bem ;). Upa, ânimo :).