
Surpreendentemente se falou e (pouco) no casamento homossexual durante estes últimos dias, desde que se agendou para o dia 10 de Outubro a votação parlamentar sobre o assunto. E, em efeito, não consigo perceber como ele foi tão pouco debatido (provavelmente uma questão de minutos). Também não consigo entender a fraca cobertura que todos os jornais online ou canais de televisão lhe deram. Sendo que, estes últimos, empurraram o assunto para o finais do telejornal - onde o share é menor do que aquando da abertura dos respectivos programas de informação. Pareceu-me que até os comentadores engoliam em seco antes de pronunciarem a palavra 'homosseuxal' ou 'gay'. Teriam eles medo de que, por acaso, ao pronunciar esssas mesmas palavras com franqueza sejam acusados de homossexualidade? Honestamente, foi o que me pareceu. De qualquer das maneiras é bom que o tema comece a ser abordado de algum jeito e que algumas das nossas figuras públicas comecem a fazer disto um tema corrente na sociedade. E agora parece que surgem umas aves raras a pedirem um referendo sobre o assunto.
O ponto está é que os gays, ao contrário das mulheres, não são uma maioria (digamos, um 50:50) da população. Referendar-se-ia o destino de uma minoria aos olhos do estado? Parece-me discriminatório. Daquelas coisas surreais. O mesmo que pedir a toda a Espanha para referendar a independência do País Basco... Odd!

Eu, pessoalmente, acredito na estratégia do PS - não podem aprovar um projecto tão polémico como este numa sociedade conservadora, sem realizarem a devida preparação social para o tema. Portanto, tratando-se de uma resolução de uma inconstitucionalidade séria, é também um tabú profundíssimo no país (e, por isso, requer um salto progressista - perigoso para quem quer ganhar eleições). Mas o que mais me revolta são certas secções 'alegres' da esquerda que se quer conservadora para agradar a velhos (!bem conservadores!) e que, bem assim, vai para a Atalaia da Amora, abanar o capacete ou as marijuanas, mas 'Deus' me livre e perdoe se afirmar que protegem o casamento entre duas criaturas do mesmo género.

[O cúmulo é depois os mesmos virem dizer que o PS foi quem tirou mais ao 25 de Abril, quando a dita igualdade ainda não chegou a todos...
afinal a revolução foi só para alguns portugueses ou foi para todos?]
Até à próxima legislatura, não me parece muito tempo, e digo-vo-lo muito sinceramente é preciso criar condições na cabeça das pessoas para temas sensíveis como este. Se o tema da IVG demorou perto de uma década até ser digerido pelas pessoas, não podemos esperar da noite para o dia a criação de condições para aceitação total do casamento homossexual. Especialmente quando se vive em Portugal. Há quem, contudo, afirme que poder-se-ia (eventualmente) começar com a legalização e esperar que a sociedade evolua (conforme-se) como aconteceu em Espanha. Acontece que nós não somos espanhóis...
Assim, fico aqui quieto a pensar o que custa tanto aos homens a igualdade? Insultos, agressividades à parte, vejo que uma ténue fronteira passa entre a razão e o estado animal. Saberão as instituições democráticas responder à civilização e à 'sofisticação' dos tempos? Certamente. Quando? Só o tempo o dirá.

PS: Por vezes penso mesmo que este tema além da obviedade da sua resolução é uma pequena parte da resolução da Revolução dos Cravos. E eu quero viver, experienciar, para poder contar aos meus netos, a passagem da noite para o dia...